terça-feira, 28 de setembro de 2010

A DISCUSSÃO DO ABORTO


 
O aborto no Brasil é que nem gosto, não se discute. É impressionante a relutância, sobretudo dos católicos, em discutir essa questão. O que mais me surpreende é que países civilizados e religiosos como Itália, França, Estados Unidos e outros, inclusive Portugal, mais recentemente, descriminalizaram o aborto e continuam inteiros. Não foram, atacados pelo demônio nem se detectou alguma matança coletiva de criancinhas. Apenas se confirmou o direito das mulheres a recorrerem ao aborto quando por algum motivo não conseguiram evitar uma gravidez indesejada. Aborto, insisto, não é um método contraceptivo, é um último recurso para se tentar evitar algo que não se deseja e que inclui a felicidade futura de uma criança e de sua mãe. Se aqui no Brasil é tabu para a igreja falar de camisinha, de métodos contraceptivos, imaginem discutir o aborto. Na última reunião da 13ª Conferência Nacional de Saúde, os representantes católicos conseguiram não só derrotar o projeto de lei que acabava com criminalização da mulher que pratica o aborto, como boicotaram qualquer possibilidade de discussão sobre o assunto. Nada democrático, direi. Recusar-se a discutir questões remete a Igreja à época das trevas, quando perseguia hereges, bruxas e infiéis, coisa que não se adequa aos dias de hoje, a menos que a Igreja queira se manter nas trevas. Lembrem que ela já andou pedindo desculpas sobre erros do passado. Vamos esperar quanto tempo para questões como o uso de preservativos para se evitar a contaminação por doenças sexualmente transmissíveis como a Aids, sejam discutidas e aceitas pela igreja? Quantas mulheres, sobretudo as mais pobres, terão que morrer nas mãos de clínicas de fundo de quintal, antes que um governo laico e corajosos decida enfrentar de modo moderno essa questão. Infelizmente as mulheres não deixarão de abortar porque a Igreja discorda. Poderão sim, abortar de modo civilizado e seguro, se a felicidade e o direito de cada um estiver acima de questões éticas e religiosas discutíveis. Eu disse, discutíveis. A Igreja, nem isso diz.

(Miguel Paiva)

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